quinta-feira, 25 de novembro de 2021

Fronteira

 


O trem na periferia rosna implacável,
é um monstro de aço.

Estremece feito terremoto
as casinhas de papel.

Sacode os frágeis tapumes
em forma de abrigos
da favela fantasma.

Mas a arquitetura improvisada,
arte eternamente sem dinheiro,
não cai.

Imponente (do seu jeito) joga nas caras
a sofrida sobrevivência.

Porque a pobreza é assim:
enquanto não descarrila o trem
pra dentro da favela fantasma,

tudo é
cotidianamente
apenas transparente.

CRiga.
(Caderno Azul, 1997)



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