Ela também gosta de mim!
Não vem desta vez...
As pessoas amadas também morrem.
Uma fotografia faz chorar.
Pior é machucar o coração, traição.
Eu também posso fazer.
sabor maior é aprender.
Ela também gosta de mim!
Não vem desta vez...
Tanta gente erra o alvo
e eu, sem-terra, fui acertado.
Um velho perde o filho.
Chegaste vendaval
que eu senti –
a brisa me salvando
da cabeça
panela de pressão.
Amanhã tem
dia de manhã de sol,
uma segunda-feira
de primeiras intenções.
Só levo planilhas
de guardanapo,
trezentos quilômetros
de arco-íris.
CRiga.
Ninguém se prepara
pra hora de
ir embora.
A gente evita
o relógio,
engana o ponteiro
na quina da
esquina.
A gente traz
o móvel de discos
pra ele ficar
feliz
de um dia poder mudar de lugar.
E eu vou
dizendo adeus, adeus
sobre o
balcão que me restou.
Olha ali minha
foto em preto e branco –
é este aí que
um dia eu fui.
Olha ali os discos que ouvi com quatro ouvidos!
Ouve ali eu dizendo adeus, amores, adeus!...
Sorrindo dores, rimas e desculpas:
agora é tarde,
o perdão não mora mais aqui.
CRiga.
Eles não nos
lembram Liverpool,
mas a vitrola
para num grito Help!
É só um grilo
nessa história
viajando nos 33
da rotação.
Acredita que ele
reza louvando
uma escadaria
para o céu?
A cigarra,
não adianta,
ela não fuma e
nem explode.
E como pode
então
aguentar
tanta pressão?
Vagalume
deseja ser ator
da novela das
oito.
Pirilampo, às
dezoito,
quer apenas tocar
num bar.
Maria pousa
na nossa madeira
sem saber se
morcego já dormiu ali.
Perigo
engravidar assombrações.
Maria não
sabia ser fedida,
era só mau
trato e afasia.
Maria de
verdade era percevejo
dourado,
enferrujado
num recado de
amor que não morreu.
Na hortelã
que tá lá embaixo
borboletinhas
amarelas emergem
a bandeira de
um país.
Aranhas,
escorpiões e taturanas
organizam
clandestinamente
uma revolução
de boas-vindas.
Abelha é sempre
bem-vinda.
Tem gente que
precisa saber
que o
diferente tem valor também.
Formiga então
não é amiga
só porque não
se diverte?
Mosquitinho,
vai tomar escondidinho,
atrás do
cachorrinho que caga no gramado!
Borrachudo fura
até a boia da piscina.
E olha que ele
coça de vontade de pular –
bora que é
bom coçar!
Quem fez as
malas foi a praga
tão magra de
nunca ter dado certo aqui.
CRiga.
A vida acordou atrasada
CRiga.
(Caderno Azul, 1997)
Calejei
emoções.
Congelei
carinho
aquele que um
dia
imaginei pra
mim.
Escondi no
sótão
aquele beijo
de boas-vindas
e o álbum da
memória.
Plastifiquei
o guardanapo
uma boca batom de boa sorte.
Enterrei-me
besouro que voará
a primeira e
a última noite
até varrido no
dia seguinte.
Deixei guardado
sobre a caixa do cuco
o mapa de um
dia você me reencontrar.
CRiga.
CRiga.
Vida te empurra.
Então me atropela.
Vide na bula.
Então me cura.
Então me culpa.
Me liberta.
São vedados os olhos
de lágrima.
A verdade só abre
a porta
pra paz poder
se instalar.
CRiga.
Coça gostoso
porque um dia
essa dor de
vontade de ficar
e de coçar,
há de passar.
Hei de passar.
Hei de ficar
sem você
precisar me notar.
Morcegos dormiram aqui.
Mariposa na
madeira
engravida
assombrações.
CRiga.
Não sou santo
pastor
nem bom cristão.
O marketing
ganha dinheiro
inventando cartilha
de político
e reza de religião.
CRiga.
Não admitem o
ócio,
projeto-negócio
de ermitão
É estranho
o mundo pela
televisão.
O algoritmo é
que hoje decide
toda a
emoção.
O jornais em
preto e branco
não têm cotas
raciais.
E quem tá
quieto se inquieta
com o
silêncio da multidão.
E pra
mostrar-se vivo no esquema
tecla um
poema de esquerda
da sala
escura de sua solidão.
E quando a
culpa acompanha o sono
só lhe preocupa
o bafo quente
de um amor
onipresente.
CRiga.
Você não
corre mais na noite,
Só aperta o
passo no teclado
Pra não perder
a inspiração.
Aperta a seda,
Falta vestido
pra elogiar.
Acerta o
compasso do texto
Pro candidato
que vai ganhar.
Você não
morre mais,
Ela chegou:
A folga
A fuga
A noite!
Se afoga no
copo de cerveja
Se afunda no
ritmo do texto
Se à noite a
gente sentir sono
A gente corre é pra
sonhar de novo.
CRiga.
CRiga.