sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Sessenta e seis leões


Eu vi o leão.
Feroz, forte, indestrutível.
Leão de mil patas e dentes
vencendo guerras, vencendo gente.

Leão de mil vidas, imortal.
Um leão tão lindo e tranquilo
passeando pelo meu quintal.

Da janela agora eu vejo o leão.
A juba mais curta pode não ter
aquele mesmo charme da juventude
carregando filhotes em fotos coloridas.

A força pode não ser
aquela mesma que venceu no dente
a selva de pedra indiferente.

E o rugido...
Mais para os monossílabos
que aquele eco eloquente
mudando o curso dos rios.

Aquele brilho do olhar de felino caçador
talvez esteja mais para o mar,
marejado,
que para o horizonte,
novo horizonte.

Lá no monte acima da grande praia
ensaia uma caverna
um hibernáculo.
Ensaia um leão cansado.

Mas é leão!

Leões têm este hábito tranquilo
de caminhar sobre a relva, seu reino,
como quem fosse fácil presa.
Sem pressa, um belo poeta loiro e altivo,
como se qualquer um pudesse o fotografar.

Leões têm esse jeito de se cansar às vezes.
Descansar. Até de se deitar na relva
quase querendo desistir de continuar.

Juba, força, rugido, olhar.
O leão chega até a pensar
que um bom leão pode sim recuar.

Mas é leão!

Sua intensa natureza não lhe permite.
O que seria do charme sob a juba experiente?
O que seria do rugir sem eloquência?    
O que seria do olhar
que determina o caminho do sol?

O que seria do sol sem poder brincar
de derrubar reinados,
sem brilhar sobre a velha juba
de um leão guerreiro rei?

CRiga.



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