Duro
é quando a água para de bater na pedra, e você tem tempo de querer sentir nos
olhos o sal.
O
mar secou, diria Drummond, eu não sou duro, José. Eu sou a água que parou de
bater na pedra. Eu sou também a pedra – rala lisa nua de cara exposta ao vento
cortante que vem num assovio do leito marítimo que virou deserto.
De
repente a onda (eu espero) vai me levar. Explodir como nos pesadelos. Daí posso
ver teu rosto refletido na lua vermelha, enquanto submerjo levemente morto no
mar do desengano, o mar tranquilo sem tempestades, tubarões e godzillas. A tal
da bonança.
Será
quando tarde demais os escafandros descobrirão uma carta borrada no bolso do
surrado jeans, apenas uma poesia pra você, a nobre arqueologia, o dia em que eu
finalmente decidi te procurar nos versos que não saíam, pois duro era quando a
pedra rolava o penhasco e você, na beira do precipício, me esperava encontro
marcado.
Sempre
nos desencontramos. Eu não honrei canções. Não te esperei feito pedra postada à
beira-mar. Eu me gastei. Virei cascalho. O vento me levou. O mar voltou a ser o
mar. E você, aros pretos nos olhos cansados da lua vermelha, resolveu sangrar a
lágrima que meus olhos não conseguiram chorar àquelas tardes. Era muito tarde.
As letrinhas já subiam dando os créditos no final do drama. Quem ama em
silêncio encrudesce a poesia.
CRiga.
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