sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Chuva de agosto



Esta sexta-feira chove o mesmo pouco
de como a milésima vez quando morri.
Isso foi há milhares de anos...
A gente se conheceu mil vezes,
mil vezes lamentamos infortúnios,
desencontros.

Nunca superamos o calor da pele
que nos envolvia pelos eriços
num abraço de calar tempestades.
Os mistérios se engoliram em furacões
que desistiram de nos gritar.

Nunca dissemos palavra que selasse
no topo da escadaria
a paz que inventamos pra chegar até ali.

A igrejinha ruiu, ficamos no meio da romaria,
ainda a cruz se arrastava na terra batida.
Era aquela quermesse que não te beijei.

Nunca olhamos nossos olhos refletidos
a cada volta no pátio da velha escola.
Éramos então mais uma vez iniciantes
fingindo primeiras vezes de se apaixonar.   

Depois éramos humanos suburbanos
levados pelos ônibus lotados a qualquer lugar.
Quando pude, perdido atrás do volante,
a carona levava também um pai que ia embora.
Não era a hora de a gente se acertar.

Aquela rua não ruiu mas ficou vazia.
Eu perdi a milésima esperança
e fui embora.

Esta sexta-feira chora
a milenar chuva que alagou o planeta.
Foi a época quando eu perdi você por aí
sem nunca de fato a gente ter-se.

Dilúvio é bobagem, meu amor.
Pior é eu chorar pouco assim pra sempre
querendo te encontrar...

CRiga.


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