quinta-feira, 28 de junho de 2018

Entre o ser e o estar


Estou mais para um solo de guitarra,
sem palavras, um rock batido.
Olhos semicerrados, outra dimensão.
O buraco negro tá sem cor.

Estou mais para o tubinho vazio de creme dental.
Esconder sorrisos, melhor repor a dispensa.
Uma saidinha bem perto, ali na mercearia,
tem dia que é melhor ir só até a esquina.

Mas quem dera o sol do bairro...

Quem dera o olhar da vizinha tão linda
cochichando sobre o muro...

Quem dera o cochilo da paz na tarde,
faz tempo que não chove confortos...

Estou mais para um tolo, um touro velho.
Patético na arena que não quer saber.
Suplico a espada, o toureiro tem pena.
Uma criança me acena sorrindo desesperanças.

Estou mais para o papel em branco
amassado com raiva, jogado no cesto.
Tem épocas em que transbordam pensamentos.
Tem outras em que não adianta mesmo trocar o lixo.

Estou mais para apelar ao que conheço.
Eu me esqueço de mim, faço a barba pra lembrar.
No espelho jaz a cara de quem tá perdido.
Um cara que tá pedindo pra dormir.

Estou mais para dormir que nada ver acontecer.
Eu sou agora o sono eterno de querer fugir.
Faz tempo que não sonho.
Faz tempo que não acordo.

Faz tempo que a alma fugiu de mim.
Ela hiberna não sei onde, incomunicável.

Estou mais para deixa-la dormitar quieta
que acorda-la sem ter o que fazer.

Estou mais para menos.
Mais para não estar.
Faz de conta que você não viu.
Faz de conta que você não leu.
  
CRiga.



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