terça-feira, 13 de março de 2018

Uma metáfora chamada Brasil


Eu ando assim como um Brasil,
e você sabe como anda o Brasil.
Parece um bêbado discursando pra ninguém na praça,
pendendo pelos lados, ele não cai
e não sai desse caminho torto.

Ele não se entrega morto
não gargalha a vida que vive.
Sobrevive fingindo ser protagonista
inventando verbos transitivos
escrevendo histórias paralelas.

Eu ando assim sempre me recuperando de tombos.
Há lutas contra coisas que achamos escravidão
que não são nossas, e sofrer é questão de escolha.
Porque se você tenta resgatar a vítima
ela diz preferir a casa do engenho
que a liberdade da pobreza.

Eu ando assim fazendo metáforas
porque luto pouco pelo Brasil.
Só louco mesmo pegar o pau da bandeira
pra com violência afiar a vaidade numa rede social.

Enquanto isso quem eu amo se escraviza.
Enquanto isso o amor avisa: “posso ser grande,
mas você me feriu”, e ele dorme um soninho magoado
querendo só ser acordado.

Eu sou como um Brasil que dorme um pesadelo.
Mas nunca fui vítima – comigo não funciona
jogar a culpa na história, deixe quieta a mãe gentil
e não balance a cadeira do coronel arrependido.

Eu ando assim precisando de alguém me dar amor.
É caro no supermercado? Posso parcelar no cartão?
Parece tudo questão de um preço
que a gente sempre terá que pagar.

O Brasil é grande demais, não cabe na metáfora.
Eu sou só a pena que boia escrevendo socorro
no céu cinzento, zangado,
que se chora molha o asfalto me dando carinho,
mas alaga a casa do meu vizinho.

O problema é nosso.
Quem vai largar o pau da bandeira
e apenas estender a mão?

CRiga.



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