Quando volta do sono, é pior que o próprio Godzilla – é a enorme
sombra do monstro sobre uma distraída e calma praia no verão. Torna treva num
segundo o céu que demora a ficar azul. Apaga feito borracha os sorrisinhos da
historinha que tentamos reinventar.
Fui eu quem o criou. Fui eu quem o alimentou. E, mesmo
quando dorme, rosna baixinho. Não tenho arpão para matá-lo. Não tenho magia
para acalmá-lo. Minha energia é sugada também.
Mesmo quando dorme, nos meus pesadelos acho que ele vem em
forma de tsunami, bagunçando a vida pacata e impondo terror. Eu corro corro das
ondas, elas sempre me alcançam, acordo em pânico – de tempos em tempos ele me
visita neste filme de apocalipse.
Demora um tempo até deitar-se novamente no fundo d’água. Até
lá, a sombra entristece os lares, todos os lares, quase todos os rostos. Cada
vez que adormece, deixa uma marca na história. E uma torcida silenciosa pra que
demore pra acordar de novo.
CRiga.