sexta-feira, 26 de julho de 2024
Bela sorrateira
Enquanto sigo teus passos rebolados
Num vestido xadrez guiado pela luz da fogueira
Teu sorriso ri de mim e me entrega à cadeia
Enquanto vende votos de miss caipirinha.
CRiga.
quinta-feira, 25 de julho de 2024
Um jazz que me leva
A vontade burguês de te ligar
Só pra dizer dos sonhos mais bonitos
E dos discos que esperam por você.
CRiga.
sexta-feira, 19 de julho de 2024
O espelho da manhã é a cara da solidão
Café amargo
Janela aberta
Estou pronto –
Que venham então as cartas em branco
Que ontem enviei pra mim.
CRiga.
quinta-feira, 18 de julho de 2024
Pedras vão rolar
Distraída, quase te esqueci!...
Bem vivida, não alimentei esperança.
Noite de dança naquele bar de rock and roll,
Renovei cabelo, vestido de lã e tênis Nike.
E naquele mesmo canto do balcão,
Você! Fazia tempo, um outono inteiro!
Deixei cair isqueiro, gesticulei feito italiana
À mesa junto a amigas que não gosto mais.
Você me via, desviava, defendia.
Se desencontrava mais e de novo de mim.
Na batalha fui à caça, cabelo e coragem,
Quando você se virou e eu atirei um ‘oi!’
Acertei, feri.
Matei?
Você
Apenas devolveu um ‘olá’ tão lindo
Pedindo a paz de bandeira branca
Estampado num sorriso brando.
Desde então somos velhos conhecidos
Amigos, amantes.
Heróis de guerra, sem terra
Mas de trincheiras marcadas
No mesmo bar,
No mesmo rock and roll.
CRiga.
Não mais a gente no sofá
Polir os discos que ficarão pra você
É bom lavar de vez quando
O tempo junta pó nos sulcos
Risca solos de guitarra
Apaga sorrisos de fotografia.
Ensinar a ligar a vitrola
Não é legal colocar no automático
A alma vive do preciso exercício
Até a faixa certa, o ponto G
A hora H de desligar.
CRiga.
terça-feira, 16 de julho de 2024
Os garotos guerreiros
Quando eu era moleque
Brinquei sozinho de matar dragões.
Meus meninos dizimam exércitos
Num jogo de computador.
Diferenças não fazem diferentes.
Por eles suporto qualquer guerra,
Não há terra que eu não vasculhe
Procurando risadas, sorvetes
E as doces conversas do jantar.
Fossem comigo ao campo inimigo,
Cantariam, contariam piadinhas.
A batalha seria mais linda e leve,
Seria breve, e a gente venceria.
A gente voltaria tomando sorvete,
Contando os dragões que tiveram fim.
Quando eu era moleque, faz tempo,
Sempre quis guerrear assim!
CRiga.
segunda-feira, 15 de julho de 2024
A boca
Quando cala, instaura a dúvida.
Se fala, é preciso cuidado, inclusive para ouvir.
Pode declamar poemas ou xingar o motorista.
Dizer que ama, que tome cuidado na estrada.
Quando beija no rosto é carinho.
Quando na outra é paixão!
Engole sapos e outras bocas
Mamilos e mangas da estação.
Faz biquinho na selfie
E não sabe se portar sozinha no metrô.
Quando sorri pode ser gentileza
Leveza, sedução
A dúvida que acredita.
É maldita, é da noite
Cochicha preces na igreja
Grita um nome ao portão
Serve pra ir a Roma
Ou mandar pra puta que pariu.
Sozinha sente a lágrima correr salgada
E engole o choro disfarçando a dor.
Bater com ela é baixaria.
Dela pra fora pode até não ser sério,
Mas às vezes magoa.
Dos buracos da cabeça é o único sem par.
Mas quando pareia incendeia!
Numa ceia dizem que traiu.
Em outros tempos tristes
Entregou inimigos à fogueira.
Hoje engana fiéis e desinformados
Com a fome da Verdade.
Mas também canta!
Paquera.
Morde e assopra.
Dilacera por ódio
E por amor.
CRiga.
terça-feira, 9 de julho de 2024
domingo, 7 de julho de 2024
Luau
Quando eu finalizar o acorde mais infinito do meu amor
O som ecoará pela noite estrelada
Será uma história que nunca foi contada
Cantada
Harmonizada num livro de poemas.
Será o universo das luzes desse céu imenso acima
Nos abraçando numa noite docemente fria.
Durante o dia, um calor de se apaixonar,
Eu nasci encontrando seu sorriso numa onda.
Será a faísca mais vermelha da roda da fogueira
Uma necessidade intensa de pegar a tua mão
E compor uma nova canção.
CRiga.
Bienal
Palavras me roem o calcanhar,
Eu caminho sílabas acertando o passo.
Comem pela beirada,
Correm licor pelo canto da boca.
Corroem, ácido sulfúrico,
O recheio do bombom.
Palavras se movem se inovando
A cada segundo, eu respiro frases
Filtrando a poluição.
Palavras morrem no fim do dia
No fio do cabelo
Silabando
Sibilando baixinho
Obrigado
Uma poesia.
CRiga.
quarta-feira, 3 de julho de 2024
Ladrões
Desde tempos que busco na memória
Nossa história não é das melhores.
Algozes nos matando nas trincheiras
Freiras nos amaldiçoando pelos caminhos
Ninhos de cobras nossa cama
Lama nos campos nosso lar
Mar de baleias e peixes mortos
Tortos anjos bebendo cachaça
Praça de guerra nossa derrota
Nota fria e falsa identidade
Cidade que nunca é nossa
Fossa no balcão dos bares
Ares de inverno polonês
Inglês defeituoso na fronteira
Cadeira elétrica e masmorra
Que porra de mil vidas nós levamos!
Mesmo assim insistes me acompanhar
Porque me amas desse jeito, feito filme
Desde tempos imemoriais.
CRiga.