Eu ando assim
como um Brasil,
e você sabe
como anda o Brasil.
Parece um
bêbado discursando pra ninguém na praça,
pendendo pelos
lados, ele não cai
e não sai desse
caminho torto.
Ele não se
entrega morto
não gargalha
a vida que vive.
Sobrevive fingindo
ser protagonista
inventando verbos
transitivos
escrevendo
histórias paralelas.
Eu ando assim
sempre me recuperando de tombos.
Há lutas
contra coisas que achamos escravidão
que não são
nossas, e sofrer é questão de escolha.
Porque se
você tenta resgatar a vítima
ela diz
preferir a casa do engenho
que a
liberdade da pobreza.
Eu ando assim
fazendo metáforas
porque luto
pouco pelo Brasil.
Só louco
mesmo pegar o pau da bandeira
pra com
violência afiar a vaidade numa rede social.
Enquanto isso
quem eu amo se escraviza.
Enquanto isso
o amor avisa: “posso ser grande,
mas você me
feriu”, e ele dorme um soninho magoado
querendo só ser
acordado.
Eu sou como um
Brasil que dorme um pesadelo.
Mas nunca fui
vítima – comigo não funciona
jogar a culpa
na história, deixe quieta a mãe gentil
e não balance
a cadeira do coronel arrependido.
Eu ando assim
precisando de alguém me dar amor.
É caro no
supermercado? Posso parcelar no cartão?
Parece tudo
questão de um preço
que a gente sempre terá que pagar.
O Brasil é
grande demais, não cabe na metáfora.
Eu sou só a
pena que boia escrevendo socorro
no céu
cinzento, zangado,
que se chora
molha o asfalto me dando carinho,
mas alaga a
casa do meu vizinho.
O problema é
nosso.
Quem vai
largar o pau da bandeira
e apenas
estender a mão?
CRiga.