sexta-feira, 20 de dezembro de 2024
Letras raras
Tenho vergonha de expor tristezas
Recônditos incompreensíveis.
Ninguém compra a flor que começa a murchar
Deixando um perfume de morte no ar.
Ou a maçã com aparência da pele idosa
Mas ainda saborosa dependendo do desejo
Dos dentes e da língua.
Há na garrafa empoeirada do boteco do Centro
Impregnada a história de um dia
Quando o alcoólatra era um cara legal.
Há na foto desbotada colada no relicário
Aquele mais doce segredo que o viúvo já esqueceu.
O casaco que arranha a pele no brechó
Já aqueceu um poeta e seu conhaque.
O vinagre já foi vinho
E a cruz a redenção –
Mas o padre desistiu.
Hoje não tem missa porque o Coral do Corpo de Cristo
Se vendeu ao Rock Inglês.
E a multidão no estádio grita a feliz unanimidade
De um ingresso muito caro.
Raro é o pulso magoado
Escrever um dia melhor.
CRiga.