terça-feira, 29 de outubro de 2024


 

Drummondear

 


Tudo é um poema
Um sal diferente
Ou açúcar de gente.

Um canto desencanto
Bonito que dói.

Ou sutileza da beleza
Quão incomunicável que arde o pulso
Na busca da mais perfeita tradução.

Punhal invisível atirado à multidão
Contra a alma sempre aberta.

E quem não acerta desconhece
A graça que a poesia tem.

CRiga.


 


sábado, 26 de outubro de 2024

terça-feira, 22 de outubro de 2024

quinta-feira, 10 de outubro de 2024


 

Cafajestes

 


Eu me vejo manchando o teu vestido de casamento com o vermelho sangue de meu ciúme doentio – calma, sem páginas policiais: apenas a taça do vinho que a gente não tomou porque você estava tão atrasada pro fatídico dia da noiva, eu te dei carona e nem cobrei a gasosa. Então vai meu bem ficar tão lindamente atrasada pra gente brincar de rasgar vestido no ato consumado da festa da tua felicidade muito bem disfarçada pela pesada maquiagem cara, champanhe e padrinhos que gastaram uma graninha besta em presentes pra te ver feliz nas fotos do futuro álbum. Nem aquela cena ridícula de novela das oito existe mais nas igrejas pra eu te condenar, aquela que o padre pergunta se há alguém que tenha algo a dizer contra esse casamento que fale agora ou cale-se para sempre – diria mataram o mensageiro do amor com um tiro certeiro no peito, e, menos poético, teu noivo comeu tua prima por trás na tua cama ainda quente de manhã enquanto você tomava banho, tua família é uma farsa de corruptos e gente de passados duvidosos, você é a única que presta um pouquinho pra uma traiçãozinha nada demais antes do casamento... Mesmo na Santa Igreja não saberia mentir tanto. Casamentinho de merda! Me devolve então a grana Maria gasolina, Maria mãe de um deus que não acredito, Maria vai-com-as-outras-foi-comigo, ah, Maria! Eu te amaria tanto se você não dissesse sim, carregaríamos garrafas pelas ruas e cairíamos esquinas pelas noites sem fim até que alcançássemos a cama mais uma noite, a gente gritando urros de prazer na madrugada até o amanhecer te chamar praquele empreguinho de merda e o meu eterno vagabundear fingindo trabalhar numa redação de jornal. E só te trairia com escritos mais românticos, não marginais. E você se ofenderia. E por vingança finalmente se casaria, certa de querer ser eternamente infeliz.

CRiga.




terça-feira, 8 de outubro de 2024


 

Não deixe aquela ideia de poesia fugir!

 


Está ali, ao lado do sofá
Que a gente já não curte mais.

Cerca, entrou no vaso vazio
Preciso comprar uma flor.

Mata, correu pra trás da cama
Não durmo nunca mais com você!

Está no quarto das crianças
Brinca, elas vão correr atrás de você também.

Não deixa passar pela sala sem perceber
Fiz meu cabelo só pra você ver.

Não joga fora assim
Você pode me machucar.

Queima então
Mas dois peguinhas só.

Desarma a ratoeira
Não precisa mais depois de tanto tempo,

Faz tanto tempo que te amo!

CRiga.



quinta-feira, 3 de outubro de 2024


 

Pau oco

 


No meio da praça penitência
Na silenciosa romaria
À escadaria da catedral.

Não me bata a carteira
Não me roube a certeza
Que o meu tempo já passou.

Na via crucis ainda há uma oração
Que precisa seguir cega, sem rancor.

Tire sua graça do meu caminho
Que eu quero passar, muito devagar
Quero te comer com os olhos
Aqui do alto do meu andor.

𝐂𝐑𝐢𝐠𝐚.