quarta-feira, 4 de outubro de 2023

Noite no sertão

 

À meia-luz a morte loira caminha tranquila
Vestido branco na cozinha ainda morna.

Vagalumes bêbados flutuam
Não há saída de emergência.

Madrugada é a brasa que se confunde
Moribunda na solidão do fogão à lenha.

A velha na cama sussurra preces de perdão
Estende a mão ao vazio do quarto escuro.

O vento leva embora lençóis surrados do varal
A rosa murcha doa pétalas perfumando o ar.

A madeira no chão range abandonos
Cinzas são o tapete da visita.

Jesus chega manso à porta entreaberta
Sorrindo a paz de um quase dia qualquer.

Indicador nos lábios sugere silêncio
O som é apenas um click de interruptor.

O sol nasce apagando a dor.
Hoje não tem cheiro de café.

CRiga.



Nenhum comentário:

Postar um comentário