Tenho vergonha de expor tristezas,
recônditos incompreensíveis.
Ninguém compra a flor que começa a murchar
deixando um perfume de morte no ar.
A maçã com aparência da pele idosa
mas ainda saborosa
dependendo do desejo dos dentes
e da língua.
Há na garrafa empoeirada do boteco do Centro
impregnada a história de um dia
em que o alcoólatra era um cara legal.
Há na foto desbotada colada no relicário
aquele mais doce segredo
que o viúvo já esqueceu.
O casaco que arranha a pele no brechó
já aqueceu um poeta em seu auge.
O vinagre já foi vinho
e a cruz a redenção –
mas o padre desistiu.
Hoje não tem missa
porque o coral do corpo de Cristo
se vendeu ao rock inglês.
E a multidão no estádio grita
a feliz unanimidade
de um ingresso muito caro.
Raro
é o pulso magoado
escrever um dia melhor.
CRiga.
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